quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

CAMINHANDO
(contra o vento e seguindo a canção).




De sandálias na mão e com os pés no chão ele sentiu a areia. Começou uma caminhada. Os arcos plantares, aliviados, recebiam massagem a cada passo dado. Desceu um pouco mais à esquerda e lá vinham as ondas em seu vai-e-vem, brincalhonas e loucas para lhe molharem os que calçam 42. Ele permitiu. Aquilo lhe agradava. A água estava morna e a branca espuma fazia bolhas e desenhos que ele seguia, sempre em frente. Deixava para trás o que já não lhe dava mais alegria. Queria banir aquele sentimento. A linha do horizonte também o distraía e as luzes refletidas no mar lhe pareciam portais, os quais certamente lhe conduziriam ao mundo das águas – não à toa, o seu elemento! De peixes, ele é, e assim sendo, a emoção lhe exercia autoridade naquele momento de introspecção. No caminho percorrido ele não acquatransportou-se, mas conseguiu atingir um nível maior de compreensão das coisas que pensava. Ficou feliz de perceber que um novo tempo o espera, quando as transformações acontecerem. Enquanto contemplava o escuro céu, ficava imaginando o esplendor do seu clarão ao amanhecer. Queria poder ver aquilo também, mas ainda era noite. Olhava a lua cheia, enchia o peito de ar, depois o soltava lentamente e tornava a recebê-lo, renovado como a si mesmo, enquanto os olhos brilhavam, úmidos e coloridos, então voltados para a Nossa Senhora do Silêncio. Já não sabia quantos passos havia dado (por vezes, alguns deles chutando a água, como que marcando gols: água no ar, ele no mar). A música também foi companheira em sua terapia ocupacional. Mozart, Wolfgang Amadeus. Ao fim, numa satisfação intensa, calçou suas sandálias, voltou à realidade e, centrado, foi transportado coletivamente à sua casa, com a certeza de que tudo é possível. Basta querer. E ele quer! (Êita, caba macho!).

Um comentário:

  1. eita cabra macho!
    E vamos seguindo com música, prosa e poesia. O resto é mar.

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