domingo, 15 de abril de 2012



Janeiro de 1982. Faltavam dois meses para que eu completasse os 15 anos de idade. Dia 19. À noite, o noticiário global nos informava da morte da Maior Cantora do Brasil. (Pelo menos eu entendia assim.). O nome dela? Elis Regina. 

Fiquei chocado. Nunca, antes, eu houvera sido seduzido tão intensamente por uma voz em disco e sentido a descontinuidade disso. No cinza Essa Mulher, de três anos atrás, Elis havia-me chegado da forma mais intensa e musical possível: eu “dava uma força” aos proprietários da loja de discos local, e, como 'salário”, podia desfrutar do melhor deles: ouvia música. O DIA INTEIRO! 

Poucos anos antes daquela silenciosa e triste noite eu havia conhecido O Bêbado e a equilibrista, a música-hino da Anistia. Afora isso, uma letra que me agradou, devido ao bêbado, ao chapéu-coco, ao Carlitos, ao Betinho (considerando a sua importância sem saber ainda qual!), e a Pátria, nossa Mãe Gentil! Também a introdução me agradara. Aquele acordeom lembrando uma Caixinha da Sorte, iniciando o arranjo de uma das melhores interpretações da nossa música brasileira.

A notícia mexeu muito comigo, e eu ficara deveras triste. Sentia que algo havia-se rompido, como, por exemplo (e, obviamente!), a voz que se calara, para sempre! A voz mais límpida e potente que eu já ouvi em música, recurso maior de uma artista excepcionalmente talentosa. 

Logo depois, e crescendo intelectualmente, eu fui conhecendo quem havia sido Elis Regina. No disco. A cada um, uma surpresa. Uma interpretação melhor que a outra. Novidades de tempos de outrora. Tanto me agradava aquela que se inspirava na Ângela Maria quanto a que, com orquídea no cabelo, me remetia à Billie Holiday, lady sings the blues.

No início dos anos 90 um amigo me apresentou e eu ouvi o segundo disco da cantora, intitulado Poema de Amor, um álbum gravado cinco anos antes de eu vir ao mundo. Poema, a música que abre o disco, era puro lirismo. (Também havia nisso o sentimento resguardado a V. V. G., o amigo, o Ritmo e o Blues). E eu me deliciava com simples canções, bolerões dramáticos; perfeitos álibis para a degustação de bons drinques e tragos.

Num certo momento de minha vida eu já havia conhecido boa parte da obra dessa artista ímpar. Até que emprestei de um amigo o livro Furacão Elis, lançado no ano de 1985. Mergulhei na leitura das muitas e sensacionais histórias acerca da nossa maior cantora, contadas pela Regina Echeverria e seus depoentes.

30 anos depois da sua morte (e numas de saudade, sempre), no meu aniversário mais recente eu voltei a me emocionar, quando ganhei de dois queridos amigos um exemplar do relançamento do livro da Regina e, mais uma vez (e com mais entendimento – inclusive musical!), eu li sobre o que foi a mãe do João, do Pedro e da Maria.

Outra vez me deliciei com as muitas e incríveis histórias da gigante gauchinha. Só lendo para ter a dimensão do que isso vem a ser. Foi como se eu lesse ouvindo música. A dela. Aquilo que ela sabia fazer de melhor, junto aos seus companheiros musicais: compositores e/ou músicos. Fosse na sua participação no Festival de Jazz de Montreux, acompanhada por Hermeto Pascoal, ou no show de estrondoso sucesso, Falso Brilhante. Ao término da leitura, fui ver imagens e ouvir canções da artista, só para que pudesse (como se precisasse) confirmar a minha opinião: a grande cantora do Brasil – com voz de outro mundo! – permanecerá no topo do que se diz de melhor nesse sentido. A autora nos contou a sua história e, na apresentação do trabalho, pediu que lhe contássemos outras.

Esta é a minha. Simples, assim. Registro de fã. Não se pode falar mais do que já foi falado. Pode-se, sim!, sentir além do que já se foi sentido.

E fico pensando:

“Ah, como essa coisa é tão bonita
Ser cantora, ser artista
Isso tudo é muito bom”
(Essa Mulher – Joyce/Ana Terra)


Aderivan Albério. 

segunda-feira, 9 de abril de 2012


A música paraibana já foi destaque nacional pela sua importância. Hoje, infelizmente, a realidade é outra: qualquer música(?), de preferência com refrão jocoso e repetitivo, é “sucesso” no Brasil; quem sabe, pelo mundo afora, considerando o imenso poder da grande rede de computadores.

Sufoco com isso!

Penso em alguns dos nossos compositores. Não naqueles que, há tempos e numa incessante luta, conseguiram alçar um voo mais alto em suas carreiras, batalhando ininterruptamente por espaço e reconhecimento nos grandes centros urbanos. Penso nos que estão por aqui, tentando mostrar a que vieram, permanecendo na terrinha por suas razões, e com seus talentos ofuscados pela atual banalização da música.

O que será que sentem eles ao constatarem tamanha massificação dessas “composições”, que só destoam do trabalho qualificado que eles nos apresentam com tanta dificuldade de divulgação? Talvez (e espero que) sintam-se bem não “compondo” de maneira incoerente, capitalista e descompromissada com o bom gosto.

(Eu nem quero entrar no mérito da Música.
Fico só na Letra. Já basta: é uma bosta!)

Por fim, me questiono: quando será que comentarão, PELO MUNDO AFORA!, os trabalhos de Renata Arruda, Adeildo Vieira, Escurinho ou Cátia de França, por exemplo, assim como comentam o “autor” de “Eu quero tchu” ou as “autoras” de “Ai, se eu te pego”?

Eu NEGO estar sendo um paraibano preconceituoso! Longe disso! Indignado, talvez. Certamente pelo descaso com artistas de verdade, comprometidos em fazer boa música sem valer-se de frases irritantes e desconexas.

Aderivan Albério.