quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012


 Cósmico

Por vezes, acredito que o Cosmo se encarrega de nos fazer reverter um quadro de desânimo para uma agradável sensação de disposição resoluta em face da adversidade. Num dado momento podemos nos encontrar cabisbaixos, mas num outro (e breve) momento, sentimos erguer a cabeça, acionados por um convite, por exemplo, que vem a nos propiciar o encontro com uma pessoa que nos muda completamente o humor.

Às vezes, sinto o Cosmo, d’Os Padrinhos Mágicos, como sendo uma preparação farmacêutica, alcoólica e adocicada, que me entorpece o corpo cansado e alivia a mente agitada. Se estou down, posso dar um up grade na minha auto-estima rindo das muito notórias frases proferidas pelo Ser do “Mundo das Fadas”.

Vez ou outra, eu, Cosmonauta (em que sentido for), me sinto na obrigação de agradecer ao Universo. Como hoje, quando, mais uma vez, fui presenteado ao conhecer uma pessoa especial (já conhecida anteriormente, sem a sua presença física). Os músculos da minha face, outrora flácidos, enrijeceram-se. Eriçaram-se os meus pelos, denotando a emoção sentida. Eu sorria, contente. E, ainda contente, eternizo o momento nesse registro.

“Ah! Pra onde vai, quando for
essa imensa alegria, toda essa exaltação?”
(Manhatã – Caetano Veloso)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

02.Caetano Veloso – Velô (1984)





Eu já conhecia parte do trabalho anterior do genial e polêmico filho da dona Canô. Mas esse álbum me é particularmente interessante por motivos vários, dentre os quais, ter sido lançado no ano da minha vinda do interior para a capital. Lembro da minha felicidade ao comprar o LP (na inesquecível Mesbla), ainda mais de quando, indo para casa e ávido por ouví-lo, encontrei um amigo que me perguntou, numa gíria que logo mais eu adotaria: “Que som é esse?”. O som era literalmente o mote do disco que também trazia gíria no nome: Velô, de velocidade (e também corruptela pro sobrenome do artista). Um disco eclético em sua sonoridade, com pop, rock, frevo, reggae, eletrônico e um quase-rap. Bom para ouvir, bom para dançar, bom para o que quer que se queira.  

Tem o inconformismo de Podres Poderes com as hipocrisias de então (e perfeitamente atuais) e o questionamento: “Será que essa minha estúpida retórica terá que soar, terá que se ouvir por mais zil anos?”.

Um poema concreto de Augusto de Campos, Pulsar, foi musicado pelo baiano, e tem a intenção de nos ensinar um “abraço de anos-luz”, seja “em Marte ou Eldorado”.

Nine Out Of Ten é uma regravação de uma faixa do álbum Transa, e ganhou uma versão no gênero musical descrito na letra: “walk down Portobello road to the sound of reggae...”. Ginga jamaicana.

Dedicada à memória do seu pai, a Mick Jagger e a Chico Buarque, O Homem Velho fala sobre essa fase da vida, com sua beleza e tristeza, e enaltece a sua importância (“as coisas migram e ele serve de farol”).

Ela comeu, trincou, mordeu, mastigou, engoliu, mascou, moeu, triturou, deglutiu, tragou, sorveu, degustou, ingeriu. Comeu. Tudo isso fez uma loura com o seu “coraçãozinho de galinha”, ou, se preferir, seu “coraçãozão de leão”.

Um frevo nos contagia na última faixa do Lado A do vinil: é Vivendo em Paz, de outro baiano (Tuzé de Abreu), que promete ao seu amor (sua vida, seu sonho, seu caso) lhe amar, adorar e com ela se casar.

Já na primeira faixa do Lado B vem o personagem “do contra”. Não queira “isso”. Ele lhe dará “aquilo”! O Quereres é espetacular na construção das rimas. Isso porque “a vida é real e de viés” e o amor, uma cilada lhe armou.

Numa composição sua, do Waly Salomão e do Antônio Cícero, Grafitti é divertida e também pop, quando cita o artista Andy Warhol, influente para os três poetas.

Por quê ela não quis o seu Sorvete? E para quê ele gravá-la em vídeo-cassete, jogar confete? Mas o enamorado insistente até franqueia a sua guia e vai à Bahia. Amar é ...

Para cantar Shy Moon consigo, o irmão da Maria Bethânia convidou o inglês Ritchie. O resultado foi uma música encantadora e transcendental.

Língua é a última faixa do LP. Um rap-pop-concreto onde ele se dedica “a criar confusões de prosódia e uma profusão de paródias”. Ele teve uma ideia incrível e achou melhor fazer uma canção que encurtasse dores e furtasse cores. Pro refrão, chamou a Elza Soares, que pergunta-nos: “o que quer, o que pode essa língua?”.

Concluí que tudo essa língua pode, principalmente se usada pelo impressionante compositor, para quem tudo é “jogo rápido, língua ligeira, olhos arregalados”.

Aderivan Albério.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Resolvi fazer uma lista. Agora que escrevo publicamente, quero também ter a minha ”Os Dez Mais ...” Eu estava pensando num disco incrível e tive a ideia de escrever sobre ele, sob a ótica da minha particularíssima opinião. Isso me fez lembrar de outros e mais outros, até que decidi eleger dez (apenas!) que gosto muito. Me propus escrever, a cada semana, a respeito de cada um deles, compondo assim a lista dos

MEUS 10 DISCOS DE PREDILEÇÃO.



01.DJAVAN – LUZ (1982)
O primeiro trabalho do alagoano que eu conheci (os anteriores eu viria a conhecer de modo alternado com os lançamentos seguintes). Eu não acreditava em tanta poesia em forma de canção. Por mais que tivesse sido “alertado” disso pela frase escrita no encarte do LP: “Ó, amor, enquanto puderes, não te percas de mim!”. Um álbum impecavelmente arranjado, com músicas que o consagraram definitivamente como um grande cantor e compositor.
Samurai, com participação de Stevie Wonder tocando gaita, abre o disco. Já ali ele dizia a que veio (“Ai, quanto querer cabe em meu coração”).
Luz, com um sutil solo de flauta, é a canção-título, e nos transporta numa viagem musical. Basta fecharmos os olhos e nos deixar levar ... (“um trem entrou no meu eu e divagou feliz”).
Nobreza é uma canção que fala da amizade entre dois homens, e de como isso lhe é superior a qualquer preconceito. Reconhecer um nobre de coração não é privilégio de muitos (“concedendo-me a graça de ver talhada em você a nobreza de frente”), ainda mais se isso envolver demonstração de afeto em público (“o amor se desnudando no meio de tanta gente”). O artista, livre, expressa o seu pensar e alegra-se por isso (“e sentir a alegria de ver a mão do prazer acenando pra gente”).
Capim brinca com a rima e assim termina: “que fim levou o amor? Plantei um pé de fulô, deu capim”.
Sina me ensinou um novo verbo: Caetanear. E eu não paro de conjugá-lo! Obrigado, mestre Djavan.
Pétala é uma das canções mais lindas que eu já ouvi em toda a minha vida! Quanta precisão em versos definitivos: “Por ser exato, o amor não cabe em si; por ser encantado, o amor revela-se; por ser amor, invade e fim”. Como se isso não bastasse, um solo de sax tenor confirma a catarse.
Banho de Rio, acompanhada do seu violão e de um quarteto de cordas, é surreal no delírio do compositor. Um lamento com o tom dramático de um violino: “sem meu amor, não tomo banho de rio nem sou feliz tão cedo”.
Açaí é outra canção que faz bom uso da palavra, nos conduzindo a deliciosos devaneios visuais/auditivos (“rajada de vento, som de assombração / ira de tubarão / zum de besouro”). Tudo isso em nome d“a paixão, puro afã”.
Esfinge tem a força das composições impactantes. O amor ali é exposto ao máximo e só se dá “pra amolecer o mundo e o seu coração de esfinge”. O meu coração ficou mole até hoje!
Minha Irmã, com um arranjo de metais de arrebatar o ouvinte, fecha o disco, com o cuidado por outrem à mostra: “mãe disse que eu botasse o olho em você, então: passa pra dentro, menino! Vai chover”.

Até o próximo.
Aderivan Albério.