A arte de fazer rir
[“O
circo chegou à cidade, era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas
se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo e eu entrei no meio
deles. (...) Depois veio o palhaço Polly, veio o Topsy, veio Diderlang que
parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público...” (Antônio
Bivar).]
Geralmente
eram circos pequenos, porém grandiosos no encantamento aos meus olhos ingênuos.
Quando podia, eu sentava numa das cadeiras (espaço privilegiado e bem perto dos
artistas); quando não, sentar no picadeiro também tinha o seu valor. A lona colorida
que nos cobria podia até estar rasgada: o que importava mesmo era a emoção que
me proporcionava o fato de eu estar ali.
Eu não me
lembro de agradarem-me os animais que algumas companhias levavam consigo.
Preferia os malabaristas, equilibristas, acrobatas, contorcionistas,
ilusionistas ... Sozinhos, em pares, ou numa tríade pai-mãe-e-filho(a). Todos
eles me faziam arrepiar. Mas ainda havia um componente da trupe, dentre eles, o
meu favorito: o palhaço! Como eu admirava aquela arte de fazer rir (e chorar de
emoção)! O personagem, sua maquiagem, seu carisma e sua imensa determinação em nos
arrancar um sorriso era o que mais me deixava em êxtase.
E assim
continuei, gostando de circo. E de palhaços. Hoje, mais de 30 anos depois de
tanto prazer pueril, eu voltei a me emocionar com eles: de manhã, assisti “O
Palhaço”, um filme de Selton Mello; à noite, pude ver uma apresentação em praça
pública do Circo Teatro Artetude, um grupo de Brasília que nos divertiu com o
espetáculo “O Grande Circo dos Irmãos Saúde”. Compreendi os episódios (e a
coincidência) como um eficaz tranquilizante para a minha mente inquieta,
ultimamente tão permissível a pensamentos dispensáveis. Comecei e terminei o
dia rindo (e chorando), feliz como naqueles tempos em que a ingenuidade fazia
parte de mim. Remocei.
Agora, compartilho
isso como quem divide com amigos aquilo que mais gosta. E findo sorrindo e
pensando:
[“Vejam
só: e há quem diga que o palhaço é, do grande circo, apenas o ladrão do coração
de uma mulher.” (“Sonhos de um palhaço” – Antônio Marcos)]
Aderivan
Albério.
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