quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

02.Caetano Veloso – Velô (1984)





Eu já conhecia parte do trabalho anterior do genial e polêmico filho da dona Canô. Mas esse álbum me é particularmente interessante por motivos vários, dentre os quais, ter sido lançado no ano da minha vinda do interior para a capital. Lembro da minha felicidade ao comprar o LP (na inesquecível Mesbla), ainda mais de quando, indo para casa e ávido por ouví-lo, encontrei um amigo que me perguntou, numa gíria que logo mais eu adotaria: “Que som é esse?”. O som era literalmente o mote do disco que também trazia gíria no nome: Velô, de velocidade (e também corruptela pro sobrenome do artista). Um disco eclético em sua sonoridade, com pop, rock, frevo, reggae, eletrônico e um quase-rap. Bom para ouvir, bom para dançar, bom para o que quer que se queira.  

Tem o inconformismo de Podres Poderes com as hipocrisias de então (e perfeitamente atuais) e o questionamento: “Será que essa minha estúpida retórica terá que soar, terá que se ouvir por mais zil anos?”.

Um poema concreto de Augusto de Campos, Pulsar, foi musicado pelo baiano, e tem a intenção de nos ensinar um “abraço de anos-luz”, seja “em Marte ou Eldorado”.

Nine Out Of Ten é uma regravação de uma faixa do álbum Transa, e ganhou uma versão no gênero musical descrito na letra: “walk down Portobello road to the sound of reggae...”. Ginga jamaicana.

Dedicada à memória do seu pai, a Mick Jagger e a Chico Buarque, O Homem Velho fala sobre essa fase da vida, com sua beleza e tristeza, e enaltece a sua importância (“as coisas migram e ele serve de farol”).

Ela comeu, trincou, mordeu, mastigou, engoliu, mascou, moeu, triturou, deglutiu, tragou, sorveu, degustou, ingeriu. Comeu. Tudo isso fez uma loura com o seu “coraçãozinho de galinha”, ou, se preferir, seu “coraçãozão de leão”.

Um frevo nos contagia na última faixa do Lado A do vinil: é Vivendo em Paz, de outro baiano (Tuzé de Abreu), que promete ao seu amor (sua vida, seu sonho, seu caso) lhe amar, adorar e com ela se casar.

Já na primeira faixa do Lado B vem o personagem “do contra”. Não queira “isso”. Ele lhe dará “aquilo”! O Quereres é espetacular na construção das rimas. Isso porque “a vida é real e de viés” e o amor, uma cilada lhe armou.

Numa composição sua, do Waly Salomão e do Antônio Cícero, Grafitti é divertida e também pop, quando cita o artista Andy Warhol, influente para os três poetas.

Por quê ela não quis o seu Sorvete? E para quê ele gravá-la em vídeo-cassete, jogar confete? Mas o enamorado insistente até franqueia a sua guia e vai à Bahia. Amar é ...

Para cantar Shy Moon consigo, o irmão da Maria Bethânia convidou o inglês Ritchie. O resultado foi uma música encantadora e transcendental.

Língua é a última faixa do LP. Um rap-pop-concreto onde ele se dedica “a criar confusões de prosódia e uma profusão de paródias”. Ele teve uma ideia incrível e achou melhor fazer uma canção que encurtasse dores e furtasse cores. Pro refrão, chamou a Elza Soares, que pergunta-nos: “o que quer, o que pode essa língua?”.

Concluí que tudo essa língua pode, principalmente se usada pelo impressionante compositor, para quem tudo é “jogo rápido, língua ligeira, olhos arregalados”.

Aderivan Albério.

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