segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Arte de Interpretar

Se hoje alguém me perguntasse o que eu prefiro, cinema ou teatro, eu responderia que o tablado me agrada (muito) mais que o set. Tudo bem: o primeiro me foi apresentado antes, nas matinês onde eu “morria de rir” com a ingenuidade do Mazzaropi, ou “perdia o fôlego” com a agilidade do Tarzan; mas eu estava a pouco tempo de conhecer a tríade “atuante, texto e público”. Eu era um adolescente que gostava de arte.
Pouco tempo se passou e eu tive o meu primeiro contato com essa forma de expressar-se artisticamente: um grupo pernambucano foi apresentar-se na paraibana cidade onde eu morava. Impossível lembrar-me o nome da peça, mas tenho nítida em minha memória a manifestação súbita do sentimento que me estarreceu naquela distante noite de domingo. Eu fiquei impressionado com as interpretações à minha frente. Muito mais do que com aquelas que eu via nos filmes (saudosamente em um cinema ainda num prédio autêntico, sem a sofisticação atual das salas de exibições, e com o jazz a contentar a minha audição antes da película começar).
Imaginar o trabalho de memorização de um texto e a sua representação me fazia pensar (acertadamente) que é muito mais difícil fazer ao vivo do que gravado. E isso me fascinou. Alguns anos mais tarde eu pude me envolver mais “intimamente” com essa maneira de fazer arte. Tive a oportunidade de assistir a várias montagens. Sua maioria muito boa. Outras, nem tanto, e outras ainda, espetaculares.
Um espetáculo! Foi essa a observação que fiz da peça “Flor de Macambira”. A montagem é do Grupo Ser Tão Teatro, que eu tive o prazer de conhecer desde o seu surgimento, quando foi encenada “Vereda da Salvação”. Gostei da proposta teatral da diretora Christina Streva, e de como ela (tão bem) exercitou os seus atores. Não vi a “Farsa da Boa Preguiça”, mas no trabalho que vi hoje, constatei o progresso da trupe. Muito mais seguros e afinados, os atores me prenderam a atenção de tal modo que fui conduzido a um estado de completa alegria. Com os seus corpos e vozes completa e dedicadamente (como deve ser!) entregues aos personagens, eles me provocaram emoções variadas.
Eu não entendo de técnicas, mas a sensibilidade me fez compreender os recursos cênicos que foram precisamente utilizados. De maneira simples e criativa eles conceberam cenografia, figurino, coreografia e luz. Usaram incríveis máscaras e, de modo contagiante, executaram a sonoplastia.
Após a apresentação, numa feliz coincidência de domingo à noite, eu deixei o lugar com a sensação de que aquele ainda é o entretenimento de minha predileção.
Não sou um crítico teatral – nem tenho pretensões a sê-lo. Mas sinto um enorme prazer em registrar as impressões que tenho das coisas que me provocam êxtase. Por isso o fiz.
Parabéns ao Grupo, por Ser(em) Tão Teatro!!!
Aderivan Albério. João Pessoa, 04 de setembro de 2011.

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